Urgências dos hospitais do Grande Porto com “picos” e “recordes” nas últimas semanas

Cirurgia condicionada nos Hospitais de Matosinhos e Póvoa e Vila do Conde
Foto: SNS
Os serviços de urgência de quatro hospitais do Grande Porto registaram “picos” e “recordes” de afluência nas últimas semanas, situações que na sua maioria não configuraram casos de emergência ou urgentes, descreveram à agência Lusa os responsáveis.
No Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, na última segunda-feira foram ao Serviço de Urgência 981 pessoas, um número que só encontra paralelo em dezembro de 2008, conforme descreveu à Lusa o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva, Nelson Pereira.
No mesmo dia, o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) registou um “recorde” de registos na Urgência face aos últimos 10 anos, sendo que mais de 70% dos casos foram doentes não referenciados pelos cuidados de saúde primários ou pelo SNS24 e perto de 40% pouco ou nada urgentes (pulseira azul ou verde).
Já dados enviados à Lusa pelo Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) revelam que, entre 14 e 20 de março, deram entrada 2.425 doentes no Serviço de Urgência do hospital de Santo António, sendo que apenas 10% dos casos correspondiam a emergências e casos considerados muito urgentes (pulseira vermelha ou laranja).
Já os casos considerados urgentes (pulseira amarela) corresponderam a 55% do total.
Nesse período, mais de 850 dos doentes que foram à urgência do Santo António, no Porto, receberam pulseiras verde (doentes pouco urgentes), azul (doentes não urgentes), branca ou não foram triados.
A pulseira branca significa casos de doentes recebidos por razões administrativas ou casos clínicos específicos referenciados por um médico, mas sem situação aguda.
Em igual período do ano passado, o Santo António acolheu na urgência menos 632 doentes.
Também a Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM) registou, nas últimas três semanas, “um aumento significativo” na afluência ao Serviço de Urgência Geral, tendo ultrapassado os 300 utentes por dia.
“Registámos níveis de afluência superiores aos últimos quatro anos”, lê-se na informação remetida à Lusa pela ULSM, que inclui o hospital de Pedro Hispano.
A estrutura de Matosinhos especifica que cerca de 37% dos doentes eram considerados não urgentes, 68% tinham como proveniência o exterior, ou seja, recorrem por sua iniciativa à urgência, 17% chegaram através do INEM, 6% por encaminhamento dos cuidados de saúde primários e 5% pela linha SNS24.
“O Conselho de Administração decidiu na passada semana iniciar o projeto ‘SNS+Proximidade’. Ou seja, os utentes a quem é atribuída a [pulseira de] cor azul [não urgente], desde que inscritos no ACeS [Agrupamento de Centros de Saúde] de Matosinhos, são encaminhados para a consulta na sua Unidade de Saúde Familiar”, avançou a ULSM, garantindo que, “apesar deste aumento da procura, ainda não houve necessidade de reforçar o serviço”.
Esta realidade transversal aos quatro hospitais que operam no Grande Porto é descrita por Nelson Pereira, do CHUSJ, como “um problema crónico sem solução fácil nem imediata”, que “se arrasta há muito tempo e que exige uma estratégia”.
“Uma estratégia que vise uma redefinição da forma de funcionamento dos serviços de urgência”, disse à Lusa o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva.
Além de aumentar a literacia em saúde junto da população, Nelson Pereira defende como fundamental capacitar a rede de cuidados de saúde primários, melhorar a articulação com as especialidades hospitalares, aumentar o número de clínicas de diagnóstico e hospitais de dia para patologias específicas e apostar na qualificação dos recursos humanos nos serviços de urgência, nomeadamente no que se refere à criação da especialidade de medicina de urgência.
“É fundamental que seja regulado o acesso aos serviços de urgência. É a única área dos cuidados de saúde em que não há regulação”, concluiu o especialista.
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