Durante a pandemia assinou o “despacho mais difícil e doloroso” – ENTREVISTA a Luísa Salgueiro, candidata do PS à Câmara de Matosinhos (c/ Podcast)

Luísa Salgueiro (Foto de Arquivo PM)
Entrevista a Luísa Salgueiro, candidata do PS à Câmara de Matosinhos.

Luísa Salgueiro, tem 53 anos, é licenciada em Direito. Já foi deputada na Assembleia da República pelo PS, em três Legislaturas, e foi vereadora na Câmara de Matosinhos desde 1997 a 2009.

É presidente da Câmara de Matosinhos desde 2017 e recandidata-se pelo PS a novo mandato nas próximas Autárquicas. Aponta como prioridades para Matosinhos Emprego, Habitação, Transição Energética e Mobilidade.

Num percurso e num projeto cujos objetivos dificilmente se atingem em quatro anos é natural que se queira dar continuidade”, explicou nesta entrevista a candidata Luísa Salgueiro, “isto em qualquer momento, e nestes anos, particularmente, pois a nossa vida foi muito perturbada” pela pandemia.

A autarca salvaguarda que “nem tudo o que estava previsto deixou de se fazer”, no entanto, “uma grande parte da nossa vida coletiva foi prejudicada, dando-se prioridade ao combate à pandemia” e é “coerente” para Luísa Salgueiro “dar continuidade a este trabalho autárquico.

Câmara de Matosinhos “foi capaz de se reinventar”

O trabalho de combate à pandemia foi de “reação”, mas “fizemos muito e muitas coisas inovadores”, frisa a candidata socialista, que assegura que a Câmara de Matosinhos “foi capaz de se reinventar e colocar todos os seus recursos ao serviço da comunidade”.

Luísa Salgueiro admite que o “despacho mais difícil” e “doloroso” que teve que assinar foi o despacho de “shut down ou encerramento” de serviços, do comércio, das escolas, etc.

A gravidade subiu de tom, recorda Luísa Salgueiro, quando “os dirigentes das IPSS me começaram a ligar a dizer que não tinham equipas para cuidar dos idosos, dado o número de infetados. A Câmara teve que direcionar as equipas que tinha preparado para a casa das pessoas para as instituições, teve que criar uma bolsa de reforço solidário, que escolher funcionárias para irem para o interior das instituições, foi uma resposta que nunca tínhamos imaginado”. Houve também que passar a distribuir “EPI’s às instituições”, oferecidos pela comunidade, alguns deles, “a desinfetar o espaço público, enfim, todas as respostas passavam por nós”. Também se decidiu distribuir máscaras pela população, até porque, recorda, “foi em Matosinhos que foi produzida a primeira máscara certificada”.

Luísa Salgueiro lembra também que “estava confinada, quando se iniciou a implementação de uma unidade de cuidados intensivos, tudo em 31 dias, unidade que não se tratou apenas de um hospital de retaguarda, pois está e continuará em funcionamento, no Hospital Pedro Hispano”.

Foi também criado um Fundo de Emergência Municipal, o programa “Matosinhos Presente” de apoio ao comércio local, ainda uma viatura móvel, nesta altura em que aumentaram os casos coma variante Delta, para fazer testagem pelas 10 antigas freguesias gratuitamente e junto aos restaurantes. Foi criada uma bolsa para que os alunos não abandonassem o ensino superior, o programa matosinhos.come com apoio aos táxis, explicou.

Creio que nesta pandemia “a autarquia foi decisiva”, sustenta a autarca recandidata ao cargo de presidente da Câmara de Matosinhos.

Como autarca viu necessidade de baixar impostos, tendo em conta a pandemia, conceder mais apoios, logo, arrecadando menos receita para os cofres municipais. Mas é uma opção do executivo de Luísa Salgueiro deixar essas verbas nos bolsos das famílias e das empresas.

Confrontada com as críticas de alguns adversários de que esteve muito ausente e só aparece agora a seis meses das eleições, Luísa Salgueiro esclarece que esteve três semanas confinada a um quarto porque se encontrava “infetada” com o coronavírus, “fora disso, é um discurso e prefiro não comentar declarações dos meus adversários. Penso que não vale a pena responder a algo tão absurdo e que Matosinhos saberá dar uma imagem de maturidade democrática. Respeito a posição de todos e deixo aos eleitores fazerem a sua avaliação”.

Refinaria: Câmara preparou grupo de trabalho que propôs Centro Tecnológico para a Energia, para o Mar e para o Trabalho Espacial

No que respeita ao impacto do fecho da Refinaria de Leça, Luísa Salgueiro informa que a Câmara de Matosinhos encomendou um estudo à Faculdade de Economia para saber “exatamente do que se estava a falar” quando aludimos aos empregos e ao impacto desta indústria. Esse estudo chegou na semana passada e diz, adianta Salgueiro, “que não são 400 em Matosinhos, mas 1600 as pessoas que têm um problema de emprego e que, na AMP, são 5000 empregos que estão em causa, sendo que o impacto na economia de Matosinhos é de cerca de 200 milhões de euros”.

É importante conhecer estes dados, explica a edil, “sobretudo para nos prepararmos, tendo em conta que foi publicado no final de junho o Regulamento do Fundo de Transição Justa (FTJ), que prevê as compensações por encerramentos deste género em toda a Europa, fruto da necessidade da descarbonização da Economia”.

Para esta situação há que fazer-se valer ainda do Fundo Social Europeu, dos recursos do Portugal 2020 e de outros do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, a chamada “bazuca”, defende. “A alteração climática está na ordem do dia e Matosinhos e a região têm que se preparar para as alternativas possíveis nas instalações da Refinaria”.

Neste contexto, a Câmara de Matosinhos tomou a iniciativa de preparar um grupo de trabalho, que apresentou esta segunda-feira, dia 26 de julho, uma proposta de se criar no local da Refinaria um novo Centro Tecnológico para a Energia, para o Mar e para o Trabalho Espacial.

Este novo Centro Tecnológico terá parcerias com várias entidades para, por um lado, compensar a perda de postos de trabalho, mas sobretudo criar novos empregos “qualificados, que permitam alavancar novamente a economia a partir daquela instalação e continuar a caminhar no sentido da descarbonização e no cumprimento das metas” que, de resto, “Portugal antecipou”, sendo o único país a fazê-lo.

A partir de agora o que se pretende é “assegurar o bem-estar e saúde da população”, lembrando Luísa Salgueiro que, nestes anos todos, “a Refinaria trouxe um passivo ambiental e de saúde considerável”.

Aqui o problema torna-se mais difícil, critica Salgueiro, porque a Refinaria tomou a decisão de encerramento “abruptamente” em vez de gradualmente criar alternativas.

Ainda assim, e tendo em conta as reuniões que já manteve com as entidades governamentais e europeias ligadas aos fundos extraordinários de Resolução Justa e Fundos Social Europeu, entre outros, a autarca de Matosinhos está convicta de que se irá encontrar uma solução viável para os trabalhadores e para a reconversão da estrutura.

Defesa dos direitos dos trabalhadores, em primeira linha, a par do futuro de Matosinhos e garantir que ali haverá uma unidade que contribua para crescimento do PIB” é o foco de Luísa Salgueiro.

As prioridades de Luísa Salgueiro para Matosinhos são Emprego, Habitação, Transição Energética e Mobilidade.

O Emprego é essencial a todas as famílias, mas a Habitação é outro bem fundamental, sublinha Luísa Salgueiro, ciente de que o preço da habitação em Matosinhos foi dos que mais subiu na AMP. E foi por isso que Matosinhos foi a terceira Câmara do país a assinar com o governo uma estratégia local de habitação, “temos 57 milhões de euros para investir e temos em construção 100 fogos que estarão concluídos em 2023”. Há mais necessidade, especificamente de trazer para “renda acessível” outros fogos, tendo sido criado um “programa para esse efeito”, que já disponibiliza 200 habitações.

Existem projetos para resolver problemas “crónicos” da A28 e rotunda AEP

Em termos de mobilidade, há problemas crónicos, reconhece Luísa Salgueiro, como a A28 e a rotunda da AEP, apesar de já se ter avançado com a saída exclusiva para as ambulâncias.

Mas há outros projetos em andamento, adianta Salgueiro. “Temos três novos interruptores (ou saídas alternativas) com projeto pronto, feito pela Câmara e orçamento municipal para os pagar, precisamos de autorização da Infraestruturas de Portugal (IP)”.

Assim, a candidata especifica que se pretende “alargar o leito da A28 até à rotunda, o que ainda não foi possível devido a constrangimentos com a Administração Central”.

Está a ser “feita neste momento a passagem superior, que liga Matosinhos cidade à Senhora da Hora, junto ao Estádio do Mar, com um viaduto sobre a A28, para possibilitar que quem queira ir para a Senhora da Hora não tenha que passar pela rotunda”.

Além de alternativas em construção, diz Luísa Salgueiro que está a ser feita uma “aposta forte nos transportes públicos”, lembrando que Matosinhos “paga transporte a todos os jovens incluindo os estudantes no ensino superior para a promoção do uso do transporte público”.

A candidata aponta que é preciso em Matosinhos a nova linha do Metro, que “já está aprovada” e que “ligará a Senhora da Hora a S. Mamede de Infesta”. Outro anseio é “garantir a linha de caminho de ferro de Leixões para passageiros, que já existe, mas não está adaptada às necessidades atuais”.

A candidata socialista entende que à medida que estas ligações vão sendo melhoradas e ampliando a mobilidade no concelho, este torna-se apetecível para novos investidores nele apostarem, dando como exemplo o Fuse Valley, a nova central tecnológica que a Farfetch vai construir. Aliando este tipo de investimento privado ao investimento público, como o novo Centro Português da Ferrovia, em Guifões, anunciado há dias pelo primeiro-ministro, coloca-se Matosinhos no centro de um conjunto de investimentos que continuará a ser uma referência metropolitana e nacional.

Entre 2017 e 2019, até à pandemia, tínhamos criado 1200 novos postos de trabalho. Penso que a nossa ambição deve ser retomar esse ritmo acelerando-o”, conclui Luísa Salgueiro, que assume como grande desafio fazer “as pessoas felizes” no seu concelho.

Entrevista na íntegra (áudio):

 

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