Limpeza do rio Leça arrancou hoje num projeto “a quatro”

Foi dado esta manhã o arranque da obra de limpeza e recuperação ecológica de 48 quilómetros do rio Leça, que atravessa os concelhos da Maia, Matosinhos, Santo Tirso e Valongo. Junto à Horta de Crestins, em Moreira da Maia, foi assinado o contrato de consignação para a intervenção nas margens do rio Leça com um investimento de quatro milhões de euros.

O investimento para este empreitada, dividida em quatro lotes, um por cada município, provém de uma candidatura ao programa REACT-EU.

Além da limpeza das margens e leito e consolidação das margens, a obra prevê ainda outras intervenções como a criação de uma zona húmida, para a reprodução de plantas aquáticas a inserir no rio, e um charco onde se irão abrigar os peixes existentes e outros a chegar no futuro, que contemplará um talude para armazenamento provisório de água quando o rio aumenta o caudal, de maneira a proteger de cheias as áreas envolventes.

Na cerimónia esteve presente o Secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires, o vice-presidente da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, Pimenta Machado, assim como os presidentes de Câmara dos municípios que constituem a Associação Corredor do Rio Leça – Maia, Matosinhos, Santo Tirso e Valongo.

A limpeza do rio deverá estar concluída até ao final deste ano, mas a associação vai pedir o prolongamento do prazo, referiu à Agência Lusa, Artur Branco, diretor executivo da Associação Corredor do Rio Leça.

Uma das primeiras ações desta limpeza passa por retirar resíduos e plantas exóticas invasoras do rio, assim como beneficiar a paisagem e a biodiversidade. A isto soma-se a reestruturação das margens para protegê-las das erosões e das cheias. Será ainda feita a replantação das margens de forma a consolidar galerias ripícolas, nome dado à vegetação que habitualmente habita as margens dos cursos de água.

De salientar que esta grande operação de limpeza das margens é, habitualmente e por força da lei, feita pelos proprietários – na sua maioria privados – mas este ano o programa REACT-EU permite que a Associação Corredor do Rio Leça pague essas intervenções a 100%, bastando que os proprietários autorizem a entrada nos seus terrenos. É uma exceção e que se vai concretizar apenas até ao final deste ano.

Foi escolhido o Dia Mundial do Ambiente para avançar com esta empreitada e também o segundo aniversário da criação da Associação de Municípios Corredor do Rio Leça, que foi fundada a 31 de maio de 2021. O objetivo é despoluir e beneficiar a vários níveis o rio Leça, “deixando à próxima geração um rio Leça de qualidade ao contrário daquilo que herdamos da geração anterior”, referiu a presidente de Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, à nossa reportagem.

 

O rio atravessa uma região com intenso dinamismo industrial, pelo que, ao longo dos anos, foi afetado por vários focos de poluição, que contribuíram para a degradação da qualidade das águas e dos sistemas biológicos. O Leça chegou a ser apontado como um dos rios mais poluídos da Europa e a ser apelidado de “morto”, como lembrou o vice-presidente da APA na sua intervenção desta manhã. O certo é que, acrescentou, agora começa a ser apontado como um exemplo a seguir “com esta associação de municípios, que se uniram por este propósito de despoluir o rio, como me foi referido há pouco tempo num evento em que estive presente no Algarve”, apontou Pimenta Machado.

O atual presidente da Associação de Municípios Corredor do Rio Leça é o presidente do município da Maia. Silva Tiago lembrou que nos próximos meses vão estar ativas quatro frentes de obra, sendo que, “a seguir, os três municípios, Maia, Valongo e Santo Tirso, têm que fazer o mesmo que Matosinhos: intervir nas suas margens e fazer o corredor do rio Leça para que haja de facto um corredor verde”, que todos possam utilizar e fruir. “O rio não vai ser navegável, mas vai ser circulável”, sublinhou o autarca.
Silva Tiago aproveitou a presença do Secretário de Estado para lembrar que, nos próximos anos, serão necessários cerca de 40 milhões de euros para concluir o corredor verde e a despoluição do rio. A associação está a ultimar os projetos para poder submeter candidaturas “ou ao Norte 2030 ou ao PRR”, referiu o autarca da Maia.

O Secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires, apontou que o caminho que se segue é cuidar da qualidade da água do Leça e divulgou que haverá financiamento específico, através de um novo documento estratégico a ser apresentado em breve pelo governo – o PENSAARP 2030 – Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais. Hugo Polido Pires especificou que “o PENSAARP é o documento habilitante que permitirá aos municípios acederem ao Portugal 2030 e candidatarem-se ao tratamento das suas massas de água”. As verbas irão ser atribuídas com “prioridade para as agregações”, o que é benéfico para estes quatro municípios da abrangência do rio Leça.

José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo, referiu ao Notícias Primeira Mão que este apoio no tratamento das águas residuais é fundamental e ficou agradado por saber que o vice-presidente da APA e o Secretário de Estado “estão a trabalhar no sentido das três ETAR’s que existem ao longo do rio Leça poderem ser melhoradas para uma qualidade de tratamento terciário, no mínimo, que garanta que o rio Leça volte a ter uma qualidade total”.

Já o presidente da Câmara de Santo Tirso, Alberto Costa, assumiu a importância deste projeto ser “a quatro” para que haja uma ligação “desde a nascente à foz” por um corredor verde, “mas sem colocar em causa a Natureza e aquilo que é a parte mais selvagem, mais natural do Leça”. A grande parte desta área menos povoada pelo Homem encontra-se no território de Santo Tirso, junto à nascente do rio.

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