As gaivotas urbanas têm sido um problema crescente nas zonas onde se reproduzem em maior quantidade. É o caso da Área Metropolitana do Porto (AMP), onde há quem as tente afastar com recurso a águias treinadas para o efeito – que visam afugentá-las e não matá-las. Mas, para os órgãos de gestão da AMP, é preciso ir mais longe, por estar também em causa a saúde pública.
De entre os impactos negativos que a AMP sinaliza estão os “riscos para a saúde pública, pela potencial transmissão de agentes patogénicos; ruído e perturbação do bem-estar e usufruto de lazer durante todo o dia; agressividade, roubo de comida; danos em infraestrutura e consequentes impactos económicos; risco de segurança das aeronaves; sujeira e espalhamento de lixo”.
Segundo a AMP, este problema afeta, em diferentes extensões e intensidade, os cinco municípios estudados (Gaia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim e Vila do Conde), com o Porto a apresentar o maior número de ninhos identificados (485), seguido de Póvoa de Varzim (118). “No inquérito realizado na AMP em 2021, com um total de 2.115 respostas, 96% dessas respostas consideravam necessária a tomada de ações de controlo das populações de gaivotas”, refere.
Por essa razão, foi encomendado um “Plano de Ação para o Controlo da População de Gaivotas nos Municípios Costeiros da Área Metropolitana do Porto”, finalizado em maio passado.
O documento aponta um conjunto de medidas “com base no extenso trabalho experimental (censos de gaivotas, identificação de ninhos, rastreio de gaivotas por GPS e observação de comportamentos por câmaras de vídeo), de revisão bibliográfica e de discussão com diversos especialistas relevantes para as causas e as consequências do desequilíbrio causado pelas gaivotas urbanas”.
Essas medidas foram agrupadas em quatro pilares: obtenção de uma licença geral do ICNF para controlo das gaivotas urbanas na AMP; tornar a AMP menos atraente para as gaivotas; impedir ou minimizar a reprodução em espaço urbano da AMP; e assegurar a continuidade do plano de ação e revisão periódica do mesmo.
E com o plano de ação já concluído, o que vai acontecer? Além de métodos de dissuasão e afastamento de gaivotas, o documento refere métodos de controlo da reprodução destas aves, como “a remoção e destruição de ovos e/ou crias, punção de ovos, injeção de substâncias capazes de matar o embrião ou utilização do método de egg-oiling (uso de parafina ou óleo alimentar nos ovos, para criar uma camada que impeça as trocas gasosas entre o embrião e o exterior)”.
O extenso relatório, de 224 páginas, aborda também o abate de aves adultas, com diferentes metodologias em análise, no pilar “Tornar a AMP menos atraente para as gaivotas”.
Neste âmbito, o plano de ação refere ainda que, para atuação em casos extremos, “os municípios devem obter do ICNF uma licença excecional para captura e abate de gaivotas urbanas em situações de extrema agressividade”.
Essas gaivotas são consideradas no relatório como “psicopatas”, com “comportamentos agressivos e repetidos”. E são dados exemplos: “gaivotas que bicam repetidamente janelas ou equipamentos, ou que impedem recorrentemente a utilização de jardins e varandas, ou que demonstram comportamentos agressivos em escolas ou outros locais frequentados por crianças”.