O disco “After Midnight”, que junta a Orquestra Jazz de Matosinhos a Rebecca Martin e às suas canções, sai esta sexta-feira, a tempo dos 25 anos do grupo, incluindo letras ditas por vozes como as de Rachel Weisz e Amy Correia.
O álbum começou a ser gravado em janeiro de 2020, mas “depois meteu-se a pandemia e foi uma chatice para gravar o disco”, conta à agência Lusa Pedro Guedes, fundador e diretor musical da Orquestra Jazz de Matosinhos (OJM).
“After Midnight” nasce da vontade de gravar um disco “com uma voz americana” e a escolha recaiu sobre Rebecca Martin porque, “além de cantar muito bem o cancioneiro americano, é também ela escritora de canções, e tem canções lindíssimas, belíssimas e com belas letras”, considera o pianista.
Essas letras ganham uma nova dimensão na edição que será lançada esta sexta-feira e inclui um ‘audiobook’ em que as canções são recitadas por 11 “mulheres de excelência”, todas escolhidas por Rebecca Martin.
Entre elas estão a atriz britânica Rachel Weisz, as cantoras norte-americanas Amy Correia, Alice Bierhorst e Gretchen Parlato, a professora universitária e economista Francisca Guedes de Oliveira, entre ativistas ambientais, antropólogas, artistas, e até Terry Martin, mãe da cantora.
A ideia foi de Pedro Guedes, que acha “muito engraçado fazer esta justaposição das duas versões”.
“Quando oiço música com letra, tenho muita dificuldade, não presto atenção às palavras, presto mais atenção ao timbre da voz e ao ritmo do que propriamente às letras. (…) Sempre me senti um bocado ‘trouxa’ por não conseguir fazer isso, então lembrei-me de gravar as letras”, explica.
O músico acredita que “as letras lidas, além do significado poético que se lhes dá, ganham uma nova prosódia, um ritmo diferente do que quando se ouve a letra cantada numa canção”.
Com esta iniciativa, querem também “voltar a dar importância ao CD”, numa altura em que, “cada vez mais, se desvaloriza o disco físico”.
“Estamos a dar uma coisa especial, uma coisa que é diferente, mas também precisamos que as pessoas comprem a nossa música, para que possamos ter de volta alguma coisa daquilo que investimos”, apela.
O disco, que já está disponível para pré-venda em versão digital, e sai em formato físico na sexta-feira, tem também um “’booklet’ de 17 páginas com um ‘design’ muito bem feito”, adianta o pianista, destacando que “são peças artísticas que formam um todo”.
Composto por seis temas originais e cinco ‘standards’ de jazz, “After Midnight” foi produzido por Pedro Guedes e Rebecca Martin e gravado e misturado por Mário Barreiros no CARA – Centro de Alto Rendimento Artístico, estúdio da OJM na Real Vinícola.
Dois anos depois do início da sua gravação, acaba por sair a tempo da celebração dos 25 anos da Orquestra, que se assinalam a 30 de janeiro.
“Foi uma feliz coincidência”, diz Pedro Guedes, que calha bem, até porque o grupo tinha previsto “fazer um concerto no dia 30, a celebrar o dia em que a Orquestra fez o primeiro concerto no Héritage Café, e calha só no dia das eleições [legislativas], portanto, foi cancelado”, admite entre risos.
Ainda sim, será transmitida uma gravação de um concerto da OJM nesse dia.
Para o resto do ano, estão preparadas várias ações, como a edição de um livro que conta a história da Orquestra, o lançamento de uma gravação ao vivo de “Our Secret World” e um disco com temas inéditos, também com o reconhecido guitarrista Kurt Rosenwinkel.
Em novembro, haverá igualmente o “encerramento das celebrações” com um concerto na Casa da Música, em que serão tocados temas do reportório original da OJM, da autoria de Pedro Guedes e de Carlos Azevedo.
Antes disso, há “um desafio muito interessante que será tocar com o Remix Ensemble [agrupamento residente da Casa da Música] uma peça escrita especialmente para estas duas formações”, por Erkki-Sven Tüür.
A estreia mundial da obra do compositor estoniano, encomendada pela Casa da Música, pela Kölner Philarmonie e pela Câmara Municipal de Matosinhos, acontece a 23 de outubro, na sala de espetáculos do Porto.