Silvestre Pereira volta a tentar a Câmara da Maia pelo BE (c/ Podcast)

Silvestre Pereira_Foto A. Santos
Com 66 anos, Silvestre Pereira volta a tentar a eleição que em 2017 lhe escapou por entre os dedos. O candidato do Bloco de Esquerda não ocupou uma cadeira no executivo pela falta de cerca de 300 votos. “Foi por muito pouco”, disse-nos nesta entrevista. O bloquista pretende ter voz na vereação para levar as propostas do partido e, acima de tudo, ser uma espécie de fiscal da atividade camarária.
Amanhã, sábado, o BE apresenta, às 21h00, no Parque Central da Maia, a sua candidatura à Câmara, que contará com a presença de Catarina Martins, coordenadora do partido.

 

 

 

Silvestre Pereira candidata-se pela segunda vez à Câmara da Maia pelo Bloco de Esquerda. Acredita que desta vez é possível concretizar o objetivo da sua candidatura?

Creio que não é só acreditar e que é mesmo necessário. Com o cenário político-partidário na Maia, com a persistência do PSD/CDS no poder e as divisões no PS, a dispersão nos outros partidos, que há uma situação em que o BE se poderá afirmar a ponto de conseguir representatividade na vereação. Na Assembleia Municipal (AM) temos tido ao longo dos tempos com trabalho que é reconhecido por toda a gente.

Daí eu achar que não só existem condições como é essencial que o BE esteja no executivo.

A pandemia trouxe ao cimo alguns problemas muito substanciais e que revelam que há necessidade de haver um controlo do que se faz. Controlo político do que se faz e dos planos que estão em execução. O Programa de Resiliência, a chamada bazuca, vai dotar a Câmara de um conjunto de condições, do ponto de vista financeiro, que naturalmente terá que investir forte para fazer a mudança necessária, na minha opinião. Posso começar a referi algumas…

Claro…

Primeiro, as questões do ponto de vista social. Verificou-se que o recuo das pessoas no recurso à Saúde Pública foi mais do que evidente, com reflexo nas situações de falta de assistência médica, por não terem tido o apoio que necessitavam. Uns por falta de acesso, outros por medo.

A responsabilidade não é apenas da autarquia, mas deve haver um trabalho em conjunto com os Ministérios respetivos, no sentido de dotarmos as freguesias de polos de assistência médica. As pessoas devem ter uma resposta de cuidados de saúde primários muito próxima.

Outro aspeto extremamente importante é o apoio aos mais idosos, pois esses são os que estão mais fragilizados dada a idade e algumas comorbilidades que possuem. Não é com medidas demagógicas de dar um subsídio de 25 euros para ir a um restaurante que se dá o apoio. Acho que isso é enganar com bolos…como diz o ditado.

É preciso utilizar os fundos que vêm do Programa de Resiliência e também do próprio orçamento da Câmara. Lembro que a Maia tem 16% de idosos. É muita gente, muitos que vivem sozinhos, muitos com doenças. É preciso ajudar e agir de forma mais afincada neste aspeto.

Há necessidade de pontos de apoio para esta população, ter oferta pública para residências/lares e centros para idosos, porque nem todos têm familiares que possam ajudar e os que existem privados são muito dispendiosos.

Necessitamos de infraestruturas públicas. A Câmara tem que ter…e não é pedir demais, que exista uma estrutura destas em cada uma das freguesia, que não negue a possibilidade de apoio a ninguém.

Não nego que tenham sido feitas coisas bonitas em termos de Ambiente, Desporto, mas é preciso criar outras dinâmicas para conseguirmos ser mais transversais e mais iguais, por isso defendemos Maia para Todos.

Eu sou de Pedrouços e se for a esta e outras freguesias, como Águas Santas, S. Pedro Fins, notamos que a Maia é muito desigual. Temos que aproveitar as verbas que aí vêm para tornar os maiatos mais felizes.

Ou seja, investir mais nas pessoas?

Sim, há um conjunto de problemas a que temos que dar resposta. Também falo, por exemplo, nas crianças. Falamos em aumentar a natalidade, mas para isso, é preciso haver emprego e pago de forma justa. Além disso, é necessária uma rede de infantários públicos por todo o concelho. Não é um objetivo megalómano ter um (ou dois, nas freguesias mais populosas) infantário público em cada freguesia do concelho.

É fundamental para haver igualdade para que as pessoas não tenham que se deslocar daqui não sei para onde. O que nos leva também à questão da falta de mobilidade nas freguesias periféricas da Maia. No centro é fácil encontrar transporte público para o Porto. Mas é muito difícil encontrar transporte público de S. Pedro Fins ou Pedrouços para o centro da Maia. São precisas horas ou então as pessoas têm que usar automóveis particulares e poluem mais.

 

De que forma a Câmara pode intervir nesta área?

Pode intervir da mesma forma como pode intervir noutros setores. A Câmara tem um orçamento, que já é substancial e vai ter que a ele afetar um conjunto de prioridades, tal como a habitação, que é estruturante e já tem um plano elaborado. Vão existir nos próximos anos, “n” fundos com possibilidade de o Estado distribuir pelas autarquias.

Também referiu a questão da habitação…

Através do programa 1º Direito, que resulta de um conjunto de projetos apresentados na Assembleia da República pelo BE, vai haver fundos para a autarquia investir com pouca comparticipação do seu orçamento na habitação social.

A Maia tinha como necessidade cerca de 893 novos fogos e a proposta aprovada indica 794. Na minha opinião ainda são precisos muito mais. Em termos percentuais a Câmara da Maia tem cerca de 4% de habitação social. Não está muito longe do que têm os outros municípios, mas está muito abaixo do que é preciso, porque a habitação é um direito. Penso que o projeto da Câmara deveria apontar para, no mínimo, 5% de construção de nova habitação pública.

As casas que tínhamos aqui construídas já perderam a sua capacidade até em termo de qualidade de habitação. O que entretanto se está a fazer é intervir no exterior, mas as casas têm mais de 40 anos e precisam de ser requalificadas no interior para oferecer condições de habitabilidade no seu todo.

Que representatividade nas freguesias pretende o BE atingir?

Em todas aquelas que vamos concorrer o objetivo é sempre eleger representantes em todas, para ter aquela proximidade. Só não está ainda definido Vila Nova da Telha, está em discussão, mas em praticamente todas as freguesias haverá candidaturas.

Que tipo de campanha eleitoral iremos ter tendo em conta que as eleições são a 26 de setembro e estamos ainda em pandemia?

A pandemia pode durar vários anos e temos que nos ajustar, não podemos deixar que ela nos empate. Vamos ter que fazer uma campanha porta a porta e levar os nossos programas ao maior número de pessoas, demonstrando a necessidade da voz do BE na vereação.

Nas últimas eleições, não elegemos um vereador por cerca de 300 votos, foi por muito pouco. Penso que um vereador no Bloco no executivo não é por causa de pelouros, mas para apresentar propostas concretas e fazer a fiscalização que é necessária a quem está no poder.

 

Podcast Entrevista:

 

Partilhar:
Subscreva a nossa Newsletter