Pandemia: GAAPP na Maia apoiou jovens com ansiedade

Rosana Santos

O Gabinete de Acompanhamento e Aconselhamento Psicológico e Pedagógico (GAAPP) é um serviço de psicologia direcionado a jovens. Implementada pela Câmara Municipal da Maia, esta iniciativa já auxilia os jovens há mais de 20 anos e, durante a pandemia, procurou alertar através de campanhas de sensibilização, para as questões da saúde mental.

Rosana Santos, psicóloga e responsável pelo Gabinete da Juventude da autarquia, em conversa com o Primeira Mão, sublinha que o “Gabinete de Acompanhamento e Aconselhamento Psicológico e Pedagógico (GAAPP) tem uma vasta experiência em trabalhar, quer as questões da consulta psicológica, quer da prevenção” dos transtornos psicológicos.

A psicóloga refere que no início da pandemia “fomos apanhados de surpresa”, pois as circunstâncias demonstraram-se “intensas para todas as pessoas, até para os profissionais da área”. Assim, a equipa de psicólogos do GAAPP, constituída “com base em protocolos existentes, quer com o ISMAI, na Maia, quer com a Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto”, tentou “desenvolver campanhas de sensibilização, nomeadamente para lidar com a ansiedade e outras sintomatologias decorrentes do isolamento inesperado que surgiu em 2020”.

O Instagram foi a plataforma digital utilizada para divulgar algumas campanhas desenvolvidas pelo GAAPP e, nesse âmbito, foi utilizada a página @maia_juventude_em_movimento, pertencente ao pelouro da Juventude da Câmara.

Rosana Santos também aponta outro meio utilizado para dar visibilidade a “temas mais relevantes”: “chegámos a usar o nosso website, por exemplo, quando fizemos uma campanha aproveitando o dia mundial da prevenção do suicídio”. A psicóloga frisa que o suicídio “é um flagelo que atinge a juventude e que tem de ser trabalhado com muita cautela”.

Consultas virtuais, exceto em casos excecionais

Com a evolução da situação pandémica e “tentando de alguma forma, prevenir a existência de novos casos” de origem psicológica, “passamos a disponibilizar as nossas consultas online sempre que necessário”, explica a psicóloga. O GAAPP passou a realizar “quase 100 % das consultas online” e nos casos, em que por razões de força maior, as consultas presenciais fossem necessárias, “de forma previamente agendada, trouxemos as pessoas ao gabinete”.

Também no decorrer da pandemia, “olhar para as pessoas de máscara e trabalhar as emoções com elas não é fácil”, explica. Desta forma, as consultas virtuais também se demonstraram uma barreira a ultrapassar em alguns casos, como por exemplo nas sessões com crianças. “O online funciona com pessoas que possuam maior capacidade de expressão verbal”, acrescenta Rosana Santos.

Apesar do foco de idade maioritário do GAAPP ser “a partir da adolescência até, sensivelmente, aos 30 anos”, a psicóloga residente afirma que a equipa não coloca “limitações à idade” dos utentes em situações devidamente fundamentadas.

Em certos casos, a necessidade leva a equipa a adotar medidas mais abrangentes e, “às vezes, acontece que, para trabalharmos o caso de um adolescente, precisamos de intervir também com a família. Se não adotarmos esta perspetiva sistémica, acabamos por não ter sucesso nas nossas intervenções. Portanto, acabamos por criar uma ou outra situação excecional, mas que nos permite fazer o nosso trabalho” da melhor forma, esclarece.

No contexto pandémico, a ansiedade nos jovens “agravou-se bastante” e, segundo Rosana Santos, diversas perturbações foram detetadas. Foram registados aumentos de solicitações relacionadas com “ansiedade social e também casos de perturbações de hiperatividade com défice de atenção, muitas vezes, confundidos com má educação, porque a dificuldade no controlo dos impulsos” origina confusão nos tutores dos jovens.

A situação torna-se mais “preocupante na adolescência”, pois muitas vezes “estas temáticas vão-se enraizando na estruturação de uma personalidade e de uma identidade”, alerta.

GAAPP promove ações de “prevenção e promoção do desenvolvimento humano”

A psicóloga do GAAPP adianta que a equipa “gosta de trabalhar numa perspetiva não só remediativa, como nas consultas de psicologia”, mas também adotando “várias atividades de prevenção e promoção do desenvolvimento humano”. Uma ação que também é implementada durante as sessões individuais, segundo Rosana Santos.

Apesar de o GAAPP se encontrar disponível, muitas vezes, “para remediar situações emergentes”, o foco principal é exatamente na “prevenção do ressurgimento das problemáticas, na promoção do desenvolvimento humano e no trabalhar ferramentas para que, noutros momentos, as pessoas possam lidar com as situações de outra forma, porque a nossa vida não é regular e os momentos de crise vão-nos revisitando”. Rosana Santos frisa que “se tivermos as ferramentas bem trabalhadas”, acabamos por conseguir ultrapassar as dificuldades.

“Portanto, para além da consulta psicológica, é fundamental todo o trabalho que fazemos ao nível das sessões de sensibilização e em temas tão diversos”. E este ano, as sessões focaram-se nas temáticas como o sucesso escolar e gestão da ansiedade, ou questões diversas relacionadas com a adolescência.

A propósito disso, a psicóloga também refere que o gabinete desenvolve diversas parcerias com escolas e que uma das questões mais solicitadas pelas mesmas é o desenvolvimento de um trabalho em prol das relações interpessoais.
No último ano, “tivemos de passar tudo para o online, pois entrar numa escola nesta altura era quase contraproducente”. Desta forma “tentámos focar-nos nos aspetos positivos das relações interpessoais, no desenvolvimento de competências e ferramentas que permitam uma vida harmoniosa”, conclui Rosana Santos.

Pandemia: Maia foi pioneira na Linha de aconselhamento psicológico

A Câmara Municipal da Maia, decorrente da pandemia Covid-19, implementou um programa social de apoio “FIQUE EM CASA” direcionado para pessoas e famílias em situação vulnerável. Sendo que a saúde mental foi uma das áreas bastante afetadas, a equipa de psicólogos da autarquia criou a primeira linha de apoio psicológico à população.

O Primeira Mão teve a oportunidade de conhecer um pouco melhor este projeto, através da conversa com a psicóloga Rosana Santos, chefe do Gabinete da Juventude da Câmara Municipal da Maia.

Rosana Santos explica que, “logo no início do primeiro confinamento em 2020, foi desenhada uma linha de aconselhamento psicológico”. Uma decisão “extremamente importante”, pois na altura ainda não existiam outras linhas telefónicas de auxílio. À conta disto, Rosana revela que a equipa de psicólogos servia como um “recurso, que, muitas vezes, fazia a ponte com as instituições de saúde”, já que o sistema nacional de saúde, devido à imprevisibilidade causada pela pandemia, também possuía algumas lacunas no atendimento aos pacientes.

A linha de aconselhamento psicológico do programa “FIQUE EM CASA” é formada por uma equipa de psicólogos da autarquia maiata, “afeta a serviços muito diversos e que se uniu em torno de uma causa”, afirma a psicóloga responsável. “Éramos cerca de 10 a fazer outras tarefas em simultâneo e a equipa dedicava uma parte do seu trabalho semanal a este aconselhamento”, acrescenta. Para gerir o planeamento, foi desenhada uma escala “para que todos os dias houvesse funcionários disponíveis para a linha”.
Ao nível do aconselhamento psicológico, de acordo com a profissional foram apoiadas cerca de 20 pessoas, “mas foram realizadas mais de 100 chamadas”. A equipa de psicólogos (“neste caso eram apenas mulheres”) da Câmara Municipal uniram esforços em torno de uma causa: dar uma resposta eficiente às necessidades das pessoas.

As solicitações foram muito diversas, “embora se prendessem essencialmente em duas áreas”, segundo a psicóloga, a solidão e situações relacionadas com a Saúde Mental.

“Por um lado, o isolamento provocou muita solidão, nomeadamente em pessoas idosas, com o encerramento de centros de dia de forma abrupta; e por outro, a questão da Saúde Mental, “porque esta é mais do que a ausência de doença”.

Nos casos de pessoas com quadros de doença mental e que precisassem de um acompanhamento mais sistemático, Rosana explica que a situação era complicada, pois realizar “consulta psicológica por telefone a pessoas com graves perturbações mentais não é eficiente”. No entanto, a equipa triunfou e conseguiu cumprir com os objetivos.

Com o aparecimento de outras iniciativas similares, “como por exemplo, a linha de saúde 24, a procura inicial” à linha de apoio psicológico implementada pela Câmara da Maia “deixou de existir”, constata Rosana. No entanto, a importância desta linha de apoio não deve ficar esquecida. “Primeiro, porque foi pioneira na resolução de problemas deste foro e, segundo, porque ajudou e continua a ajudar muitos e todo os maiatos que dela necessitem”.

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