ENTREVISTA: Renato Pita diz que 2021 foi positivo com o Troféu suíço e anuncia projeto de ‘app’ para crianças

Renato Pita (foto de arquivo)

Renato Pita nasceu em 1975. A sua carreira enquanto piloto de rali conta já com vários anos de história. Primeiro em Portugal e posteriormente na Europa, participou em algumas das mais importantes provas de rali do mundo. Este ano de 2021 apostou competir, pela primeira vez, num Troféu – no Renault Clio Trophy Suiss. Uma experiência positiva, disse-nos nesta ENTREVISTA ao Notícias Primeira Mão.

NPM: Como decorreu este novo desafio no Troféu suíço?

RP: O balanço que faço é muito positivo. Apesar de 17 anos de carreira, só agora me foi possível competir num Troféu. Para quem não sabe o que é um Troféu, é uma disputa em que todos os pilotos utilizam um carro igual, ou seja, em termos de resultados está tudo mais nivelado. Desde os pneus ao fato de competição, tudo é normalizado.

 

Já tinha participado num rali na Suíça, há uns anos, em que os campeonatos são muito difíceis, a começar pelas condições meteorológicas, pois há muita neve, o que para nós é mais difícil. Nesta prova competi com pilotos muito jovens e mais habituados a estes campeonatos. Mas foi muito bom, porque conseguimos bater-nos com eles, sempre reduzindo a diferença por quilómetro e conseguimos andar num registo muito perto dos 3 a 4 mais rápidos do Clio Trophy.

Os resultados foram consideráveis: 5º no Rallye des Bornes; 7º no Mt Blanc; 4º no Ronde del Ticino e também no International Du Valais. O que é muito positivo.

Nos Troféus a perícia do piloto é mais valorizada?

 

Sim, quando não fazemos um Troféu, escolhemos um carro de acordo com as caraterísticas da prova, em termos de potência, por exemplo. Nos Troféus, como os carros são todos iguais, há outro tipo de preparação que temos que fazer. Preparamos as classificativas todas em vídeo, em que temos acesso a todo o tipo de registos do percurso, para estarmos devidamente treinados. Depois há toda a preparação do carro e também a nossa, quer a parte física quer mental, para que o único foco seja a estrada.

Como é a preparação de um piloto?

Não há uma preparação-tipo e cada piloto terá a sua. A minha assenta num trabalho cardiovascular: faço corrida e bicicleta. Faço menos a parte de ginásio. Preparo muito também a parte de reação com treino com bolas, por exemplo.

 

A parte da alimentação também tem que ser cuidada, porque temos que manter o peso ao longo de todo o ano, até porque isso interfere com a afinação de todo o carro. Além disso, o fato é feito por medida no início do campeonato e não devemos variar o peso.

 

Da minha experiência, a parte cardiovascular é muito importante, visto que se estamos bem fisicamente também ficamos bem mentalmente, com bons níveis de concentração, o que é muito importante para ter um ritmo estável em toda a prova e obter os melhores tempos.

Na pandemia a preparação não parou?

A preparação não parou, mas a competição sim. Quando retomou, não concordei com a forma como estava a ser feita a retoma e fiz uma paragem. Mas a própria preparação foi diferente, pois os ginásios pararam e, durante algum tempo, os parques também fecharam. Geralmente recorro ao Parque de Avioso para correr e treinar, pelo que esta parte foi um pouco prejudicada. Não foi só a parte física que foi afetada, mas também a nível mental, por causa da incerteza económica. Houve uma mudança radical, com mudanças das apostas das marcas, tivemos que nos adaptar.

Neste setor também há crise para angariação de patrocínios?

Felizmente, antes da pandemia, fiz um trabalho que me fez ganhar a confiança de grandes marcas nacionais e internacionais, embora todos tenhamos sido afetados em todas as áreas. Talvez as grandes marcas estivessem mais preparadas para enfrentar esta crise pandémica.

No meu caso, consegui colocar em andamento o projeto com um carro novo, mas tivemos que reduzir o número de provas e reajustar o número e o tipo de provas em que participamos, etc.

Não posso dizer que fui prejudicado pela pandemia em 2021. Em 2020 todos fomos surpreendidos, mas depois tudo teve que ser reajustado e o ano atual foi positivo.

Há uma nova parceria técnica com a Sébastien Loeb Racing. Como é que surge?

Quando iniciei o projeto, em 2021, o carro era novo, ainda não o conhecia, pois foi lançado recentemente pela Renault. Pensei que a opção que tinha feito de uma equipa com a qual comecei a trabalhar era o ideal, mas depois percebi, ao final do primeiro rali, que havia muita coisa nova que iria demorar muito para avançar e chegar onde cheguei no final deste campeonato, e que só conseguiria ser bem sucedido se tivesse uma equipa com provas dadas neste tipo de carro.

 

Sempre tive uma fixação pelo piloto Sébastien Loeb, que foi 9 vezes campeão do mundo. E como ele tem uma equipa, recorri a ela para ser o meu suporte a nível técnico e estou muito com este passo. Eles na Sébastien Loeb Racing são extremamente profissionais com um conhecimento incrível sobre a preparação de um carro para uma prova.

 

E com eles também aprendi muito sobre como enfrentar os desafios que cada prova nos coloca e como devemos preparar um carro para uma dada competição.

O que destaca das suas participações deste ano?

O que fiz este ano no campeonato suíço, a não ser o Rallye International Du Valais, foi tudo provas novas, muito difíceis, mas de que gostei bastante e que com todo o gosto repetiria.

 

Estava contemplado também fazer este ano uma prova na Madeira, mas não me foi possível estar presente. Havia uma expectativa do meu possível regresso ao Campeonato da Madeira, porque tinha agendados dois anos nesta competição.

Fiz em 2019 o primeiro ano, onde venci o troféu das equipas mistas (um piloto e uma navegadora). Estava programado para dois anos, mas no ano seguinte foi o ano da pandemia. E tenho que fechar este capítulo do segundo ano na Madeira, o que possivelmente acontecerá no próximo ano. Mas ainda não está tudo fechado para 2022, quando estiver, irei anunciar.

Mas o que pode já adiantar de 2022?

Vou continuar a fazer corridas, continuar com a minha equipa, que já me acompanha há vários anos e também com o suporte técnico da Sébastien Loeb Racing. Há a dúvida se irei manter o Renault Clio ou se irei passar para um carro de categoria superior. Tudo indica que irei regressar ao Campeonato da Madeira de Ralis. A nível desportivo é o que posso adiantar.

O meu projeto vive também da componente da prevenção rodoviária com a Etapa Segura. Já temos, para além da Maia que tem feito várias ações, uma série de outros protocolos.

E tem andado um pouco por todo o país?

Sim, desde 2012 que tenho andado por todo o país por várias escolas, com protocolos com vários municípios. Neste momento, já temos fechadas várias atividades para o ano letivo que está a decorrer.

Nesta componente de inovação irei continuar pelo país, talvez mais por regiões, visto que o Etapa Segura cresceu muito rapidamente e ocupa muito do meu tempo. Para poder estar focado nos dois projetos, tive que passar esta componente da Prevenção Rodoviária mais para a região Norte, com ações pontuais na zona de Lisboa e no Algarve.

Sou muito feliz por poder continuar com as crianças e a sensibilizar para a prevenção rodoviária.

O projeto inclui um livro. Haverá novas edições?

Em termos de livros, por enquanto não. Mas estamos com outro projeto, embora ainda na fase inicial, de uma aplicação. Será uma ‘app’ a que as crianças poderão aceder através de um telemóvel ou de um tablet, onde terão um conjunto de exercícios e jogos. À medida que o jogo se vai desenrolando, serão colocadas várias perguntas a cada participante sobre prevenção rodoviária, o que lhes permitirá prosseguir ou não nesse jogo. De acordo com as respostas certas, haverá pontuação e depois existirá um Top10 para os melhores participantes.

A ‘app’ só deverá ficar concluída no final de 2022, até porque é um processo demorado e está a ser supervisionado pelo Ministério da Educação.

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