Os trabalhadores da indústria das conservas cumprem amanhã uma greve nacional e organizam concentrações de protesto contra os “salários muito baixos” pagos no setor e a “desregulamentação” dos horários de trabalho, anunciou fonte sindical.
“Face à posição intransigente da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) de recusa em negociar aumentos salariais dignos e a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT), a FESAHT decidiu convocar uma greve nacional dia 19 de janeiro de 2022 por aumentos salariais dignos, defesa dos direitos e negociação do CCT”, refere a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT) em comunicado.
Além da greve, a FESAHT vai organizar concentrações de protesto dos trabalhadores à porta de empresas do setor, designadamente na Cofisa, às 14:00 horas, na ESIP, às 14:30 horas, e junto à sede da ANICP, em Matosinhos, às 10:00, onde, pelas 11:00, fará um balanço da greve em conferência de imprensa.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da ANICP disse que a associação “não se revê nas reivindicações da CGTP” e “estranha terem surgido em plena campanha eleitoral”: “Sobretudo porque este processo negocial decorre desde há vários meses, embora a ANICP tenha ficado sem resposta relativamente à última interação negocial”, sustentou José Maria Freitas.
Garantindo que “a ANICP continuará, como sempre, disponível para negociar a totalidade do CCT, incluindo a revisão salarial”, o dirigente associativo esclareceu, contudo, que “não está disponível para participar numa encenação e na instrumentalização de um tema que é muito relevante para as empresas e para os trabalhadores” de um “importante setor da economia nacional” como o das conservas.
No comunicado hoje divulgado, a FESAHT salienta que “o setor da indústria das conservas vive uma boa situação económica”, precisando que, “em 2020, a indústria nacional produziu 72 mil toneladas, mais 11 mil toneladas do que em 2019, tendo gerado 365 milhões de euros, mais 40 milhões do que ano anterior”.
“Houve um aumento de 16% na procura de conservas nacionais, assim como 14% no volume de vendas e 20% em valor”, e “a expectativa da indústria é que a tendência de crescimento da procura continue a ser acima dos dois dígitos, tanto a nível interno como externo”, enfatiza.
Apesar deste cenário, a federação sindical diz que as empresas do setor “pagam salários muito baixos” e que a ANICP “recusa negociar a tabela salarial e a revisão do CCT enquanto os sindicatos não aceitarem a retirada de direitos”.
“A ANICP quer alterar as regras dos horários de trabalho para poder obrigar os trabalhadores a trabalhar durante o horário noturno”, acusa, garantindo que estes “não aceitam a desregulamentação dos horários”, porque “não querem passar a ser máquinas na mão do patrão, para ligar e desligar quando lhe der jeito e tendo como único objetivo o aumento do lucro”.
“Os trabalhadores da indústria de conservas de peixe querem continuar a ter direito à vida pessoal e familiar”, acrescenta.