O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) garantiu que os constrangimentos nas urgências de obstetrícia e nos blocos de partos verificam-se em vários hospitais do país, alertando que a situação “irá piorar” nos próximos meses.
“O SIM desde há mais de um ano que tem vindo a alertar para a gravíssima situação que se vive nos serviços de obstetrícia na área metropolitana de Lisboa, bem como em outros pontos do país”, adiantou à Lusa o secretário-geral do sindicato.
Em vários hospitais do país registam-se “carências de escalas há muitos meses” na área da obstetrícia e da ginecologia, salientou Jorge Roque da Cunha, ao apontar os exemplos da área metropolitana de Lisboa, do Algarve e de Leiria.
“Este fim de semana no Algarve, na véspera de sábado, foram dois médicos deslocados de Portimão para garantir a urgência em Faro” e hoje o SIM recebeu uma “carta de colegas de Leiria, em que manifestam mais uma vez essa insuficiência” de médicos para assegurar as escalas completas, avançou o dirigente sindical.
Segundo Roque da Cunha, essa situação deve-se à “exaustão” dos médicos especialistas dos hospitais públicos, que em 2022 realizaram “cerca de 10 milhões de horas extraordinárias”.
“Em relação ao Hospital de Santa Maria e a muitos desses locais, a situação irá piorar” nos próximos meses, depois de muitos dos especialistas terem efetuado “300 ou 400 horas extra” cada um durante vários anos, alertou.
“Estamos a assistir este ano a uma atitude perfeitamente correta e justificável de médicos que não fazem mais do que as 150 horas [anuais] que são obrigatórias, daí que o Hospital de Santa Maria recorra aos privados” para os partos de baixo risco, referiu Roque da Cunha.
De acordo com o sindicalista, isto está a acontecer porque o Ministério da Saúde “não investe no reforço de médicos no Serviço Nacional de Saúde”.
“A questão de fundo tem a ver com essa incapacidade do Governo que não se irá resolver com propostas de aumentos salariais que nos foram apresentadas de cerca de 1,7% para os vários regimes de trabalho”, lamentou Roque da Cunha.
As grávidas de baixo risco referenciadas para o Hospital de Santa Maria estão a ser reencaminhadas para hospitais privados de Lisboa devido a “constrangimentos na escala clínica” da sala de partos, anunciou no domingo o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN).
O centro explicou que esta decisão surge na sequência da “indisponibilidade de prestação de trabalho extraordinário acima das 150 horas anuais assumida por médicos do departamento e da [recente] demissão de chefes de equipa da Urgência de Obstetrícia e Ginecologia”.
De acordo com o CHULN, as equipas do Hospital de Santa Maria continuarão a assegurar os partos de alto risco, mas “por uma questão de previsibilidade para as famílias acompanhadas no CHULN, foi acionado o mecanismo extraordinário de colaboração com instituições privadas, previsto no plano sazonal de verão ‘Nascer em segurança no SNS’”.