Seniores do Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro e a alegria do regresso às atividades

Foto: Patrícia Stanton

O Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro, localizado no bairro Jardins do Sobreiro, na Maia, tem sido um grande apoio para os mais desfavorecidos. Auxiliando cerca de 1200 pessoas por ano, este lugar pretende tornar a vida destas pessoas um pouco melhor.

Para além disto, também dinamiza atividades para todos aqueles que frequentam o espaço de forma regular, os mais velhos. Ginástica, teatro, coro, trabalhos manuais e Boccia, são apenas alguns exemplos daquilo que estes utentes aqui praticam.

Mário Figueiredo é coordenador do Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro e começa por referir que o trabalho desenvolvido com as pessoas de idade mais avançada destina-se aos “seniores autónomos”. Os que não o são necessitam de outras “respostas específicas”. Assim, a preocupação da equipa é direcionada a “pessoas aposentadas, sozinhas e sem retaguarda familiar”.

No sentido de acrescentar qualidade ao dia-a-dia destas pessoas, o centro possui um programa alargado de atividades ocupacionais “para promover a criatividade, a manutenção física e intelectual, a estimulação cognitiva para atrasar as demências próprias da idade, entre outras”, afirma Mário. Por um lado, estas atividades pretendem ir ao encontro dos gostos pessoais de cada pessoa e também, “àquilo que a gente sabe que é importante para que elas tenham uma melhor qualidade de vida”.

A solidão foi um dos principais problemas do confinamento 

Com o instalar da pandemia, todos foram obrigados a ir para casa e, segundo Mário Figueiredo, em alguns casos “isso veio acrescentar um problema muito grande: a solidão”. Deste modo, a equipa do CC Vermoim/Sobreiro teve de se adaptar à nova realidade e encontrar estratégias para manter o contacto com as pessoas.

“A solidão é terrível em todas as idades”, explica Mário, mas para estes seniores, o isolamento teve um impacto mais devastador. “O confinamento significou uma falta grave de socialização, porque mesmo sozinhas as pessoas vão ao supermercado, ao café, vão passear, e com a pandemia, isso não pôde acontecer. A solidão, indiretamente, provoca outro tipo de danos físicos e as pessoas começam a ter perdas de memória, de mobilidade e de capacidade cognitiva”.

A equipa, durante o confinamento, realizava visitas frequentes aos lares destas pessoas, levando-lhes bens essenciais e auxiliando nas tarefas necessárias. A par disto, também trabalharam maneiras de manter as atividades ocupacionais de forma presencial e digital. No entanto, conscientes de que “nem todos tinham acesso a esses conteúdos, levávamos tablets e ensinávamos as pessoas a trabalhar com eles”, afirma Mário Figueiredo.

Neste momento, este espaço já começou a desconfinar e embora de forma gradual, o CC Vermoim/Sobreiro já se começa a encher de alegria outra vez.

Maria Moreia tem 80 anos e frequenta o centro há cerca de quatro. Segundo ela, “estar aqui é muito agradável, porque nos obriga a sair de casa e isso, é essencial. As pessoas aqui ajudam-nos em tudo, mas, mais que isso, é a maneira como nos tratam. São muito amáveis.”

Antonieta Martins tem 74 anos e também ela se sente feliz por retornar ao centro. Para esta utente, o confinamento foi particularmente doloroso, porque até aí tinha sido sempre muito ativa. “Estava habituada a ter aquele regime, porque eu andava aqui, mas também tinha atividades na câmara e no ginásio, e senti muita falta”, explica. No entanto, Antonieta encontrou outra forma de se manter ativa. “Tínhamos atividades pelo telemóvel e todos os dias tinha uma aula de ginástica” virtual. “Ia a todas”, acrescenta.

“Gosto muito de estar aqui, tenho um bom convívio, recebo uns bons conselhos e faço muito trabalho. Cozo, desenho, levo para casa, fazemos praia e até ginástica”, refere Angelina Braga, outra das seniores presentes no local e que se revelou alegre com o regresso. “Fiquei contente porque os meus filhos trabalham e vivem longe e eu estou sozinha em casa, estou na solidão. Aqui rio-me e estou distraída”.

O conceito de idoso tem vindo a alterar bastante e Mário Figueiredo, não considera os seus seniores, como idosos. “Têm mais idade do que nós todos, mas são seniores. São pessoas ativas, numa fase muito importante da sua vida biológica e devido à ciência, as pessoas cada vez estão a viver mais tempo”. O coordenador considera que “a sociedade se está a ajustar um bocado mal a este aumento, porque ainda não está adaptada para responder às necessidades destas pessoas que já não estão em idade ativa, mas que ainda são autónomos e ativos em outras áreas não profissionais. Eu trabalho com essas pessoas”, conclui.

Seniores preparam espetáculo de marionetas

A visita do Primeira Mão ao CC Vermoim/Sobreiro coincidiu com uma das atividades que a equipa promove, o teatro de marionetas. Carla Ribeiro é monitora da ação coordenadora e faz parte do teatro e marionetas de Mandrágora.

Segundo a mesma, “este projeto foi aprovado o ano passado, mas foram feitos adiamentos até chegar a esta fase em que era possível realizá-lo com as pessoas de idade. Estamos a trabalhar as artes plásticas na área da construção de marionetas e eles estão a trabalhar com esponja, que é um material mais simples e mais leve. Também vamos trabalhar com as marionetas de vara, que já pressupõe algumas noções de escultura e modelagem e também, o teatro de sombras que trabalha as competências do desenho. Paralelamente vamos trabalhar a manipulação e a interpretação, porque a ideia é criar um espetáculo final, inspirado na vida de Luis Vaz de Camões”.

No Centro Comunitário Vermoim/Sobreiro a idade não representa nenhuma limitação. Há atividades para todos e a ajuda também chega de igual forma, a todas as pessoas que dela precisem. E neste regresso à nova normalidade, os seniores foram os que se demonstraram mais ansiosos por retornar à sua rotina de convivência, num lugar que os acolhe com todo o amor.

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