Na Maia “é a hora da Fraternidade…” e de ajudar a Ucrânia – Entrevista exclusiva a António Silva Tiago

Foto: Mário Santos/CMM

A propósito do início da viagem para a Ucrânia, esta sexta-feira, dia 11, da campanha “Sorrisos de Esperança”, liderada pela Câmara da Maia e que vai transportar bens para os refugiados ucranianos, bem como trazer pessoas que fogem à guerra, o Notícias Primeira Mão entrevistou em exclusivo o presidente da Câmara Municipal da Maia, António Silva Tiago.
O autarca afirma-se orgulhoso da resposta pela generosidade da comunidade maiata para com esta iniciativa de solidariedade.

A Câmara da Maia lança uma iniciativa de apoio muito direto aos refugiados da Ucrânia. Bens e famílias são os dois eixos centrais. Como foi coordenada esta missão “Sorrisos de Esperança”?

Silva Tiago: Antes de mais, quero sublinhar todo o meu apreço pela pronta resposta e generosidade da comunidade concelhia, desde as famílias, instituições e empresas que, sem hesitação e desde o primeiro minuto, disseram presente e isso é muito reconfortante para o Presidente da Câmara Municipal que vê a sua comunidade perfeitamente alinhada com esse sentimento inspirador de que todos contam e são importantes e de que todos somos responsáveis por todos, mesmo quando aqueles a quem queremos dizer presente estão a milhares de quilómetros de distância, como a Ucrânia.

Não é nova esta vontade de ajudar e de integrar, posto que na Maia há toda uma tradição de cuidar do vizinho da porta ao lado, do vizinho da mesma rua, do lugar, da freguesia, enfim, de ajudar solidária e genuinamente. Mas esta é a hora da Fraternidade, é a hora da Maia afirmar a sua fraternidade universal.

Quanto à coordenação logística, confiei essa missão à Senhora Vice-Presidente, Emília Santos, que está a articular toda a logística da missão com os diversos serviços do município e que conta também com a colaboração ativa do Vereador da Proteção Civil, Mário Neves, posto que esta missão convoca um suporte importante nessa área. Estou a acompanhar toda a operação ao minuto e posso dizer que a forma como tudo está a ser planeado me inspira total confiança de que os objetivos da missão serão integralmente alcançados.

 

Quais os principais agentes e parceiros cooperadores com esta missão de solidariedade da autarquia?

Silva Tiago: Contamos com vários parceiros institucionais e algumas empresas cuja atividade e produção de bens era importante termos connosco.
Assim que a operação foi iniciada fomos obtendo de imediato a adesão das instituições, empresas e voluntários que sem demora se disponibilizaram para participar e integrar a missão. É de referir que houve quem tivesse contactado a Câmara da Maia assim que tomou conhecimento, mesmo antes de qualquer abordagem para se colocar ao dispor e colaborar.

Esta missão designa-se por “Sorrisos de Esperança”, estando alinhada com o ‘statment inspiracional’ “Maia Sorrir para a Vida”, tendo em consideração que o sorriso é uma expressão facial que aporta esperança e conforto humano a quem precisa de ser tocado por esses sentimentos.

 

Mas deixe-me que lhe diga que responderam prontamente ao nosso repto, as Juntas de Freguesia, toda a comunidade escolar – as escolas, as direções, os professores, os alunos, as associações de encarregados de educação – incluindo os estabelecimentos privados, a SOCIALIS, a Fundação ALLAMANO, a Transportes JDC – José Domingos Carvalho (fundamental para a recolha de toneladas de bens oferecidos em todo o concelho), o Grupo ABBorges, que disponibilizou o armazém, a GARLAND, que assegurou dois camiões TIR, sendo que o segundo parte a 18 de março, a Imagens Soltas, que fez a decoração dos veículos, a Maia Transportes, que proporcionou condições especiais para o autocarro, a DIGIK, que contribuiu para assegurar o autocarro, a Sociedade Comercial C. Santos e a Alves Bandeira, com doação de bens, o Rotary Club da Maia, através do qual teremos apoio na viagem de regresso e contribuirá para situações de alojamento… E a lista está em permanente atualização.

 

Quantas pessoas a Câmara prevê poder trazer da Ucrânia e ajudar na sua integração no município?

Silva Tiago: Vamos enviar um autocarro de passageiros com 52 lugares e contamos poder regressar com a lotação completa. Tudo está a ser trabalhado em permanente contacto com o Consulado da Ucrânia, por forma a que haja assertividade na ajuda e tudo possa decorrer dentro do planeado e com os resultados esperados.
Paralelamente, estão a ser trabalhadas as respostas sociais, por forma a que o acolhimento e integração dos refugiados se processe de modo a que possam ultrapassar, tão cedo quanto possível, esta situação altamente traumática. Naturalmente que este trabalho requer muita cooperação institucional, desde logo com as IPSS’s do concelho.

A Câmara foi contactada por familiares de ucranianos aqui residentes a solicitar apoio para os seus familiares? 

Silva Tiago: Nesse particular, a Câmara Municipal foi até proativa e tem como propósito promover a reunificação de refugiados com as suas famílias, sempre que tal seja possível, tanto mais que isso facilitará precisamente o que todos pretendemos, a sua rápida e plena integração.
Toda esta operação foi preparada num tempo recorde, sempre em perfeita cooperação institucional e articulação com o Consulado da Ucrânia, com o Ministério de Estado e da Presidência, com o Alto Comissariado para as Migrações, com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e com outras entidades e, obviamente, com a comunidade Russa e Ucraniana da Maia.

Quero também comunicar que na missão, que sairá ainda hoje, cuidamos de constituir uma equipa, digamos, multidisciplinar, pelo que vai um médico, dois enfermeiros, uma tradutora, alguns colaboradores do Município e o Vereador da Proteção Civil, acompanhado de alguns operacionais.

Dado que a Maia tem uma grande comunidade de russos e ucranianos perfeitamente integrados há vários anos, acredita que no futuro a convivência vai continuar a ser cordial? A Câmara pode promover alguma iniciativa com esse objetivo?

Silva Tiago: Não acredito que possam ocorrer quaisquer problemas que ponham em crise essa harmonia, tenho absoluta certeza que essa Paz social entre russos e ucranianos que vivem na Maia vai permanecer. Há vários anos que estamos a fazer um caminho sólido na promoção da interculturalidade e da sã convivência entre comunidades oriundas de diferentes países e culturas, podendo afirmar que tem sido um sucesso. Naturalmente, vamos continuar esse caminho, concedendo agora uma maior atenção a essa convivência.

Mas deixe-me dizer, a propósito disso, que não vejo qualquer problema no facto de termos uma comunidade russa e ucraniana forte na Maia, pelo contrário, estou certo que todas as pessoas de ambas as nacionalidades e culturas, compreendem bem que a guerra que está em curso na Ucrânia não está acontecer por vontade do povo russo, mas sim pela ambição desmesurada de uma só pessoa que sonha ser o Czar do antigo bloco soviético. Basta ver as manifestações de milhares e milhares de russos, no seu próprio país, e facilmente se percebe que, se essas pessoas arriscam a vida e a sua integridade física e a sua Liberdade, é porque não apoiam a guerra nem quem a faz. Outros, não concordando, não arriscam sujeitar-se à barbárie da repressão que temos visto nas ruas de imensas cidades russas. Creio que russos e ucranianos que vivem na Maia estão todos do lado certo desta situação, quer dizer, estão do lado da Paz.

A missão “Sorrisos de Esperança” tem algum custo para a autarquia?

Silva Tiago: É óbvio que sim. Há custos com a montagem e coordenação da operação, mas são custos partilhados pelos nossos parceiros institucionais e privados. Estamos a cuidar desta missão, como fazemos com todas as atividades e iniciativas, com total sentido da responsabilidade. Mas permita-me que lhe diga, que no que respeita a esta missão humanitária, embora mantendo o rigor e a exigência que nos carateriza sempre que estão em causa recursos do município, confesso que tudo quanto é essencial para que a missão seja bem sucedida, temos garantido.

Entendo que uma missão desta natureza, que convoca em cada um de nós, o que há de mais genuinamente humanista e solidário, tem de ser levada a cabo com um certo comedimento, para que as pessoas a quem queremos efetivamente ajudar, nesta fase tão terrível das suas vidas, vejam no nosso recato e contenção, um sinal de afeto e proximidade, mas também de muito respeito pelo seu sofrimento. Expresso este meu sentimento, não apenas porque é assim que entendo a solidariedade humana e social, mas também porque sei que a comunidade maiata sente assim…

 

Angélica Santos
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